O MISTÉRIO DE NÓINHO
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e repente aquele moçoilo bico-doce, topetudo e cheio de babados
fortíssimos para cima da mulherada, murchou. Seu mundo caiu e nada de sassarico
no Bar da Zilú, nada de namoricos com as gêmeas da farmácia, nada de nada.
— Xiii, acho que
se embonecou de vez - as más línguas caiam matando, dizendo sobre sua
reputação.
Isto tudo aconteceu quando Nóinho tagarelava
feito uma vitrola sem freio, contando uma das suas vantagens com uma tora de
torresmo grudada nos beiços.
De repente
arregalou o par de olhos e parou de rir na hora, pasmo de susto. Pronto, correu
para o quarto e se trancou a sete chaves, mudinho da silva. Daí por diante
começou a levar uma vida sacra. Quase santo e só faltava levitar com um par de
asas cabeludas.
O povo falava
mesmo. Uns diziam que foi praga de alguma donzela imaculada. Já outros diziam
que Nóinho pirou com suas próprias ideias.
Bem feito, porque sempre quis meter o pitaco onde não era chamado, mas agora
fechou para sempre a tramela, de uma tal maneira que não punha nem o nariz na
porta. Sua fama foi para o saco.
Numa dessas, seu
Tinoco, o pai ressabiado, quase enlouqueceu de vez. Mandou convocar o pastor, o
bispo e até o pai de santo, porém Nóinho não recebia
ninguém , urrando:
— Me deixem em paz!
Era uma lamúria
danada e todos queriam descobrir os mistérios daquele garanhão que havia
sucumbido nas trevas. O pai passava dia e noite tentando mirabolar um jeito de
ver o moçoilo de novo, de bem com a vida, com aquele seu jeito mulherengo.
Que saudades dos
tempos que NÓINHO contava suas aventuras conjugais, como capítulos de um filme
erótico! Talvez, quem sabe, o torresminho a pururuca estava meio passado
e mexeu com seus hormônios masculinos. Ou então ele descobriu que o seu
“negócio” era outro, preferindo mesmo um barbado de cirolão.
Pensaram até em
arrombar a porta, mas seu Tinoco era contra qualquer tipo de violência. Nisso
teve uma ideia de gênio. Pegou algumas economias e foi pessoalmente na boate da
Zilú, contratando as meninas para uma noite de gala, no quarto de Nóinho.
Assim aquele rapaz
calaria a boca do povo que já o chamava de frajola. Combinaram o preço de toda
a coreografia. Na frente ficaria a Zilú com todas as meninas
peladas, plantando bananeira. E seu Tinoco, mais que depressa, bateria as fotos
de Nóinho gingando com a mulherada. Somente assim tamparia a boca daquele Zé
povinho! A grande noite chegou e o pai comia os tocos das unhas, de puro
nervoso.
Deu duas
batidinhas na porta e silêncio total.
Mas Nóinho estava lá dentro, se fazendo de morto. Deu um assobio forte
para que as meninas se posicionassem e chegaram com tudo para o momento da
“virada”. Rebolavam a “buzanfa” de lá para cá e numa peitada só derrubaram a
porta do quarto do rapaz. Nóinho quase varou a parede, tentando fugir, mas foi
grudado de jeito e prensado nos pés da cama, enquanto seu Tinoco chamava a
vizinhança para assistir a mexidinha do garoto.
—Vaai, Nóinho! -
gritava, feito louco - O Brasil está de olho em você.Mas que decepção! - O
infeliz correu para debaixo do colchão, chorando de medo.
E o povo vaiou,
num coro só. Nisso um silêncio macabro. Foi quando Nóinho teve um chilique,
explicando aos gritos que não era aquilo que todos pensavam.
Não era um
torresmo estragado, nem tampouco havia negado fogo. E arreganhando a boquinha
para a luz da lua mostrou a sua banguela com lágrimas nos olhos.
Isto mesmo, Nóinho
estava desdentado. Sua boca estava murcha, feito uma manga chupada.
Seus dentes haviam
despencado numa mordida fatal naquele torresminho à pururuca. Foi por isto que
havia morrido para o mundo, se definhando no quarto feito um noviço rebelde.
Seu Tinoco mirou a
banguela rosada de Nóinho, olhou para as meninas da Zilú e num gesto de
confraternização lhe arrancou a própria dentadura, engavetando a “perereca” com tudo na boca do filho chorão,
feliz da vida por lhe ser útil num momento de dor. E não é que ficou uma graça.
Parece que foi feita sob medida e desta vez a comilança rolou frouxo, porque
com tamanha dentadura de cavalo, dava para Nóinho comer toda a carne do mundo e
ainda sobrava espaço para roer o osso, matando todas as lombrigas de pura
congestão!
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