A SOGRA PODEROSA

 

                           





T

otonho tinha uma sogra que controlava a vida da família toda como um verdadeiro sargento do Exército Militar, exigindo obediência cega, surda e muda. Com sua língua de elástico passava as ordens do dia e analisava o balanço do mês, controlando as despesas e os custos.

Para ela, Totonho simplesmente estava por fora. Dizia para o mundo inteiro que ele era um “pamonha” e que não passava de um “maricas”.

—É um sonso. – finalizava com um sorriso escancarado nos lábios.

Então ele morria de raiva daquela mulher abelhuda que exercia total poder sobre sua casa, aparecendo logo cedo só para não perder o café da manhã com rodelas de cebola. Por que rodelas de cebola? Por que ela adorava no meio do pão.

Por sua vez Totonho não fazia questão alguma em ser simpático. Ele morava em uma edícula no fundo do seu quintal e não pagava aluguel, mas tinha que engolir aquela vitrola enguiçada, reclamando o tempo inteiro que ele era um inútil, mas fazer o quê contra a própria sogra? Esta pergunta martelava a sua cabeça noite e dia; se não fosse o medo que sentia dela, dona Armênia já estaria no Paraíso das minhocas, vendo a grama “crescer por baixo”.

Só que Totonho não tinha um pingo de coragem e todo os seus planos mirabolantes e picantes, não saiam do papel.

Afinal de contas não precisaria ser violento e nem radical. Queria apenas que ela lhe olhasse com outros olhos e que tivesse por ele um pouco de carinho. Sempre foi um homem honesto e merecia respeito.

Ainda moleque casou-se com a sua primeira namorada e fazia de tudo para serem felizes, porém a fofa da dona Armênia queria que Totonho ficasse debaixo do tapete.

 — Dona Armênia monstruosa! – resmungava - Você me paga!

Num final de noite, enquanto assistia a um filme de suspense, teve a maior ideia do século:

 

O FALSO SEQUESTRO DE ARMÊNIA

 

Seria um sequestro mentiroso; com bandido “fake”, de “araque” apenas para lhe impressionar e no final tudo acabaria em pizza porque ele salvaria a “sogrona” dos picaretas e viveriam felizes para sempre.

Totonho combinou tudo com uma galera sinistra e prometeu em troca uma “mufunfa” bem gorda. O grande dia chegou e toda a família estava

assistindo TV na sala enquanto ele andava de lá para cá com muito medo que alguma coisa desse errado.

— Que azia! Que nervoso! – bufava - Se não der certo, estarei frito!

De repente aqueles homens estranhos pularam a janela com suas armas de plásticos e máscaras do Zorro querendo ensacar dona Armênia.

— É você que se acha o Ben Laden do pedaço? É você que aterroriza este pobre rapaz trabalhador, né? Sua louca! – ameaçavam.

— Ingrata! Um homem assim é como uma mosca branca: coisa rara de encontrar neste mundo. Pede perdão e implore por sua misericórdia.

— Somos implacáveis com sogras maléficas e fofoqueiras. Quem você pensa que é, sua bruxa? Iremos arrancar seus cílios postiços com as unhas e essa sua peruca verde musgo vai servir de travesseiro para o meu papagaio!

Nisso Totonho virou macho, gritando com o rolo de macarrão que ninguém tocaria em um só fio de cabelo da sogra querida:

—Essa mulher é tudo para mim! Não ousem difamar essa nobre senhora. Quero ver o infeliz que chegará perto dos ossos dessa Dama!

Dona Armênia ficou pasma de susto e nunca pensou que fosse tão amada assim. Ele subiu na mesa de jantar e fez um verdadeiro discurso. Disse que não existia no mundo uma mulher tão importante como ela: forte, dinâmica, inteligente, feminina, elegante, sensível, sexy ( sem ser vulgar), linda e guerreira. Muitas vezes era mal compreendida por todos, mas na verdade era uma mãe que lhe guiava com rédeas curtas e sem ela, não conseguiria viver um só minuto.

— Que me levem no seu lugar, ou então, sumam daqui! – batia no peito, completamente ensandecido: - Bando de vagabundos! Essa mulher é o meu mundo! O ar que respiro! O meu chão! O meu grande e louco amor!

Conforme o combinado, Totonho colocou os sequestradores pra correr com o cabo da vassoura:

— Xoxo, pilantras! Deixem a nossa querida em paz!

Dona Armênia quase desmaiou de pavor e o arrependimento lhe caiu feito um tijolo em sua cabeça.

—Ah, que genro maravilhoso! Preciso tratar Totonho como ele realmente merece. - suspirava pelos cantos. -  Que homem! Que valente! Que lindo!

Totonho deu um show de interpretação e toda a “bandidagem” fugiu pelos fundos, deixando os dois abraçados, se debulhando em lágrimas:

— Ah, Totonho. Você é demais! – suspirava, tremendo de emoção. - Meu herói. Você para mim é o próprio “Volverine”, o Thor, o Incrível Hulk!

Daquela noite em diante nada de palavras chulas a respeito de Totonho.

Agora ele  era o Rei do Pedaço e todos os dias logo cedo dona Armênia lhe servia pessoalmente o café da manhã na sua cama, com direito a panquecas, rabanada e bananas verdes com pimenta malagueta. Por que pimenta malagueta? Porque simplesmente Totonho adorava pimenta no meio do pão e ninguém poderia contrariar. Ele dava as ordens, e a sogra poderosa apenas obedecia, totalmente escravizada pelos encantos de Totonho.

 

 

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