DONA MARGARIDA
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m gesto de carinho tem o dom de curar,
renovar e enobrecer qualquer um que esteja caído, triste ou doente. Basta ter
um toque de mãos mágicas e “than than than than “... a beleza cria vida e se
expande ao redor, enfeitando o mundo.
Porque era uma vez
um jardim florido e luxuoso que só tinha plantas de categoria, obedecendo a uma
lei de inquilinato rigorosa e cheia de diplomacia; flor murcha, bichada e que
não rendesse coisa boa estava fora. Se a coitada fosse velha, feia e caída, não
tinha vez. Que ela arrumasse a sua mala e fosse morar em outra freguesia.
Assim aquele espaço enorme de área verde possuía apenas as plantas mais bonitas, exuberantes e requintadas, sendo exibidas a todo custo em troca de elogios emocionados das madames que desfilavam sem parar. Corriam os olhos, sapeando o que enxergavam de melhor e todos os dias o jardineiro fazia a faxina no ambiente.
Até que deu de
cara com a cara minguada de Margarida, uma das mais novas moradoras, tentando
se destacar das outras.
Tibúrcio ficou
pasmo diante de sua pretensão em querer mostrar aquilo que não era, nunca foi e
jamais seria; ou seja, uma planta rara. Nisso começou o falatório no quarteirão
e as más línguas comentavam sem parar a audácia de Margarida, que insistia em
ficar por ali mesmo.
Na verdade, nem
ela mesma sabia explicar como havia surgido num lugar tão fino e delicado.
Era simples,
humilde e de nome comum: Margarida!
Mas não encontrava
um clima para crescer e se dar bem. Todos os dias ela era discriminada,
ignorada e simplesmente isolada do mundo. E qual o motivo desse desprezo, hein?
Margarida não
fazia parte da sociedade poderosa daquele jardim. Sendo assim foi ficando
doente, triste e feia. Não tinha forças para reagir, pois não se sentia amada.
O jardineiro só pensava num jeito de lhe
arrancá-la pela raiz, embora ela já estivesse morrendo a cada dia por falta de
carinho. Rodopiou de um lado ao outro e pum, desmaiou de solidão.
De repente uma
criança surgiu do nada, fugindo da própria mãe, num corre-corre danado e
tropeçando numa das pedras caiu de boca na pobre Margarida, que dava o seu
suspiro final.
Só que crianças são crianças e dentro de seus corações não existe território de luxo, elite ou riqueza. Elas gostam por gostar.
Acham bonito e
pronto. E foi exatamente isto que Eduardinho caiu aos pés de Margarida,
fascinado com seu jeito simples. Tocou-lhe com os dedos cheios de carinho,
querendo muito que vivesse, colorindo os olhos de emoção por estar diante de
uma obra perfeita de Deus. Naquele momento o tempo parou. Suas pétalas se
abriram num sorriso de alegria, talvez agradecida por um gesto de encanto que
fez com que renascesse ainda mais bonita.
Eduardinho passou
a visitar Margarida todas as vezes que voltava do colégio, conversando com ela
como que se fosse a sua melhor amiga. A melhor de todas, porque não estava
naquele imenso e luxuoso jardim por acaso. Estava ali por ser, de coração, a
mais sublime expressão de vida, garantindo com humildade e beleza seu lugar de
imenso valor.
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