ESQUIZOFRÊNIA, O ÓPIO DA MENTE
Olhos negros, sonolentos e dopados pelo mesmo
psicotrópico de sempre, receitado após as refeições como se fosse um docinho de
abóbora.
Agora eu não era mais o
moleque comum que sorria no quadro da parede, onde não me enquadrava num
retrato feliz.Era mais um doente da sociedade, isolado da minha própria família
em nome da benevolência humana e jogado junto com o meu medo diante de um
psiquiatra; dono absoluto do meu corpo, do meu destino e dono de mim!
Minhas pernas tremiam de
tantos remédios e quando passei as mãos nos cabelos percebi que foram picotados.
Melhor assim porque não precisava mais pentear como antes fazia.Não precisava
mais ser o bonitinho para ninguém e a ala feminina do manicômio era saturada
por mulheres frias, silenciosas e silenciadas pela solidão.
Chamadas apenas de LOUCAS
VARRIDAS, que arrastavam suas caras sonsas pelos corredores a procura de
motivos que as fizessem acreditar que teriam um almoço familiar ao lado daquele
marido distante, que nunca mais apareceu. Igual a mim.Tínhamos as mesmas caras
e o mesmo uniforme pálido que não definia nossas curvas, nos transformando em
seres apáticos e “alheios”.
Ali dentro eu não era mais
o estudante que sempre fui . Este homem havia ficado
para trás dos muros num passado que não fazia parte da minha nova personalidade.
Uma camisa de força havia
nos separado e quando as pessoas ao meu redor perceberam que eu não poderia ser
mais aquele homem sociável, subitamente me prenderam dentro de um camburão no
qual fui conduzido para um outro mundo, confinado a permanecer vagando entre os
demais desiludidos feito carcaças humanas entupidas por calmantes, apenas para
não incomodar .
Ao meu lado estava o
armário de ferro, companheiro de longas tardes de primavera, verão, outono e
inverno !
Era o meu único amigo e quando quiseram trocá-lo por uma cômoda nova protestei como pude para que ficasse ali comigo.
Este hospital tem um jardim florido e muitos bancos pintados por tinta clara.Depois das árvores coloridas tem um muro alto que vai além dos meus olhos e da minha imaginação.E sei que depois dele tudo é diferente e perfeitamente normal.As pessoas do outro lado não babam e não adoecem de pavor ao saber que não existe futuro...
Estou aqui a espera.Estou
aqui esperando que um dia não exista mais nenhuma doença mental; que um dia não
exista mais esta solidão e que um dia alguém venha apenas me ver.Podem me
trazer pipocas, dar comida na minha boca e me fazer uma graça sem me deixar sem
graça por eu não achar mais nada engraçado.
Vocês podem percorrer este
jardim desbotado, passar pelo isolamento e depois ir embora.Abrir aquele portão
de ferro com os olhos impregnados de piedade, dar um aceno distante, virar as
costas e simplesmente ir embora.
Você já me deu a certeza
de um destino incerto;me deu calmantes para ficar tranquilo dentro de um
manicômio; me deu uma camisa de força para não me rebelar contra uma estrutura
falida; um sistema que castrou a minha liberdade de poder simplesmente tomar
cafezinho no bar da esquina ...E agora, vai me dar o quê?!
Fechei os olhos devagarzinho
e me transformei num sonho onde pudesse distrair os pensamentos e alegrar a
minha imaginação sonâmbula.Agora não sou mais um som.
Um mero som que os surdos
não ouvem, pois o meu cantar incomoda os seus ouvidos e os hipócritas
ignoram.Omitem. Agora sou mais que um conjunto harmonioso.Cansei de me perder
no Cosmos a procura de algo que me tornasse vivo perante a sociedade.
Algo que me desse o poder
de libertar sorrisos aprisionados atrás de um simples radio de pilhas que
cantarola musicas antigas.
Agora sou eu mesmo que
acabou de encontrar-se...Não na simplicidade do meu ser, mas na grandiosidade
dos meus sentimentos.
Estou aprisionado no seu preconceito. Preciso ser livre.
Neste verão quero vestir uma camisa de
força.Quero usar camiseta, como você.
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