Saudades de você
Os peixes viviam em grupos, os crustáceos eram unidos e
aquela comunidade fazia o maior sucesso debaixo d’água.
Durante anos foi assim e nada atrapalhava a felicidade
daquelas criaturas exóticas que curtiam a vida numa boa. Sem falar do peixinho
Pixote que se acabava de tanto reinar na correnteza do rio, fazendo mil
travessuras e deixando todo mundo de barbatana em pé.
Na sua cabecinha de peixe frito abobado aquele paraíso
nunca teria fim. Com certeza seus filhos e netos seriam criados ali dando
continuidade às suas traquinagens.
Até que de repente, algo muito sinistro aconteceu e nunca
mais aquele rio foi o mesmo.
Não se sabe se era dia ou noite, porém um barulho enorme
acabou com o sossego da galera. Pixote quase caiu durinho da Silva com os olhos
esbugalhados de tanto susto.
Coisa de louco! Parecia que o rio estava se rachando ao
meio e toda a sua vizinhança abandonou o local, perdida e sem rumo.
Alguns pediam por socorro e já outros não tinham nem
fala. Houve um desmoronamento de pedras e todo o paraíso sumiu de seus olhos, sendo
totalmente ocupado por um enorme sofá e alguns cacarecos estranhos. Peixoto só
pensava em nadar bem rápido e quase entrou em órbita com sua super nadadeira
poderosa. Lembrou-se dos companheiros de infância, das brincadeiras no final da
tarde, dos planos que faziam para o futuro.
- Adeus família, casa, lugar...
Antes parecia tudo perfeito, eterno e inatingível. Embora
não conhecessem de perto o criador daquele paraíso. Acreditavam ser alguém
muito especial que sabia encantar a todos com tamanha beleza.
Ali era o seu lugar, que foi lhe oferecido com muito
carinho e por isso merecia respeito. Pixote não conseguia entender o motivo
daquela destruição e sentiu uma imensa tristeza.
Enquanto nadava bem longe dali, era ainda bombardeado por
lixo de todo o tipo e tamanho.
Tinham garrafas de vidro e de plástico, latas, restos de alimentos e caixas de papelão. O mal cheiro lhe deixou tonto, completamente desnorteado.
Pixote tentou reagir, mas o rio foi ficando cada vez mais
poluído e as plantas morreram “envenenadas”.
Sua água ficou tão escura que não dava mais para ver as
pedrinhas no fundo.
E o tempo foi passando lentamente... Pixote já estava
velhinho, mas aquele rio não saia do pensamento. Foi nele que viveu os melhores
momentos de sua vida.
Atualmente morava em outro lugar, porém corria o boato
que todo o lixo invadiu o local.
A largura do rio diminuiu e a profundidade também,
sobrando pouco espaço para a água correr.
O rio ficou estreito e sumiu do mapa. Pixote agora já era
um peixe sábio e compreendeu o grande desastre que havia ocorrido no rio da sua
infância.
Algumas pessoas acham que o rio é uma imensa lata de
lixo, contribuindo ativamente para o seu desaparecimento.
Só não percebem que quando um rio desaparece, todo um
ecossistema se acaba.
E foi assim que Pixote contou para seus filhos e netos a
triste história de um rio que já não existia mais, fazendo parte apenas de sua
eterna lembrança.
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