Maria Mulher




    


Quando Maria ainda era uma menininha desengonçada e cheia de peraltice

aprendeu com o mundo inteiro que para ser respeitada deveria ser dócil, feminina e

extremamente frágil. Maria cresceu assim; com seus desejos reprimidos para dentro do

SHOLTIEN. Não podia rir alto para não ser vulgar. Não podia ter opinião, expressão

ou  paixão.

    O único desejo permitido para uma dona de casa era observar com carinho as

roupas alvejadas no varal, uma a uma, formando um poema que apenas quem tem as

mãos entupidas por calos consegue entender.

    Numa noite comum, como tantas outras, Maria se deu um tempo para olhar no

espelho;  dedilhou os lábios secos, o rosto maltratado e o penteado mal feito. Sentiu dó

de si mesma e ao seu redor quem brilhava mesmo era o chão.

     Alguns anos haviam passado e somente Maria não havia passado por eles. Não havia

sido feliz. Não sentiu prazer ou algo que lhe fizesse muito mais mulher.

      Colocou os chinelos e começou a se procurar pelos cantos da casa, pelas portas,

maçanetas e não encontrou ninguém.

       Tudo estava perfeitamente em seus devidos lugares:  os bibelôs, as cortinas e o

tapete. Apenas a sua alma estava deslocada do corpo, perdida e sem dono.

        Começou a chorar baixinho e a chamar por um e por outro. Estava ali sozinha com

tudo que havia conquistado durante a vida: os moveis reluzentes que já haviam feito

muitos calos nas mãos.

    Então Maria resolveu reescrever a sua própria história! Montou o seu próprio

negócio, voltou a estudar e agora tinha argumento, opinião, expressão e paixão pela

vida. Valorizou a intensidade de seus sentimentos e o poder de sua energia ao se

multiplicar em mãe, mulher e companheira. E você pensa que o “maridão” ficou bravo?

Claro que não.  Ele se sentiu o homem mais orgulhoso do mundo, pois reconheceu que

estava diante de uma pessoa determinada e que soube conquistar o seu espaço com

muita garra, determinação e jeito; jeito de mulher!

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