O KIT MAROMBA ok




    Quando Juliano bateu o seu Ray-ban espelhado de frente com o corpão aferventado daquela deusa da gostosura, quase embolotou de vez e jurou aos pés da santa que seria amor eterno,imaculado e sem fim.

    Que mulher! Ela era totalmente livre, leve e solta, prontinha para a dança do acasalamento com seu jeito sexy de ser.Tinha um olhar meigo e insinuava um charminho dengoso com sua boca apetitosa de comer biscoito de polvilho.Na verdade,tinha cara de “peixe frito”.O quê?! Isso mesmo, mas para que serve uma simples cara, hein? Bobagem! – pensava Juliano com sua cabeça de bagre de dar dó. Um verdadeiro escravo dos prazeres mundanos. Era uma pessoa vazia e sem conteúdo.

Na sua mediocridade barata, o interior de Idalina não tinha serventia pra nada porque o restante já falava por si, tinha vida própria e parecia uma coisa do outro mundo 

— Estou totalmente seduzido por essa mulher!

Será que Idalina era este fenômeno de beleza irradiante e paralisante?Só que aquela gente futriqueira tirava o maior sarro dos apetrechos “miúdos” de Idalina e colocava a menina para escanteio, morta de raiva e prontinha para a vingança.Ela nunca desistiu de brilhar e queria dar o troco para aquele povo ridículo que não sabia reconhecer uma beleza moderna, diferente e exótica.

— Bando de idiotas!

Foi assim que apareceu em sua vida um mascate luxuoso que trazia dentro de sua sacola o famoso e intergaláctico “KIT MAROMBA”.Era a revolução do século! Estava tudo muito bem dobradinho num pacote lacrado por uma abotoadora secreta.

—Quanto mistério! — se assustou.

Mas se quisesse,poderia lhe mostrar cada peça, fazendo uma demonstração rápida de sua magnífica eficiência.E o preço, hein? Ora, um Kit Maromba não tem preço! Quanto vale um corpo suculento, prontinho para arrancar os cabelos da galera invejosa? Um monumento ambulante, emborrachado e totalmente garantido até a próxima Copa do Mundo?

Era só passar o cartão de crédito ou débito, vestir a carcaça e sair rebolando, com a certeza de que nunca mais seria a mesma de antes.

O kit Maromba já vinha com um peito artificial revestido por couro de capotão; bundona feita de bola de boliche e uma cinta elástica à base de cimento crusó para dar um breque na pança.

Em poucos minutos, tchantchantchantchaaaaan!! Idalina se transformaria na Mulher Maravilha do pedaço e se vingaria da oposição que sempre quis lhe ver por baixo, decaída e falida.

 Ela não duas pensou vezes:

—Ah, eu quero o Kit Maromba! Eu preciso do Kit Maromba! Se eu não tiver um Kit Maromba,juro que piro de vez!  Será a minha vingança suculenta.

—Tenho certeza de que ficará ainda mais linda! Vou embrulhar para presente: de você para você mesma. Um luxo! Mulher de atitude é outra coisa.

—Pagarei em doze vezes no cartão. Eu mereço. Pronto, tá feito: eu me mimei!

 Ela precisava se presentear antes mesmo que sucumbisse com toda a sua feiúra para debaixo da terra, pensava com seus botões.

— Maravilha! Qualquer dificuldade para pagar, vende o carro, a casa ou o próprio rim.É um investimento digno de uma dama de imenso valor. Por mais duzentos reais, levará no combo, a fantástica sandália do poder. Com ela, você ficará mais imponente e desejável. Tem vinte centímetros de elegância no formato de um salto amadeirado, estilo egípcio e glamoroso. Foi usado por Madame Baveloswisk Gracy Lorrys da Silva na virada do ano 2000 — inventou para impressionar.

—Quem é essa? – perguntou ressabiada.

—Sério que não conhece? É a terceira esposa do príncipe Jonelson Boy das Ilhas Gregas.

—Claro que conheço. Embrulha junto.

—Temos também o baton botox “Boca de Peixe do Rio Nilo”, que preencherá seus lábios naturalmente com um leve toque de estilo e sedução.

—Fechado. Embrulha tudo e passa a régua. Pode fechar a conta.  Quero me tornar uma mulher ousada e inesquecível.

 —Diva, com certeza vai arrasar no arraso!

Foi assim que o otário do Juliano se apaixonou por Idalina, babando feito louco em cima daquele petisco vitaminado que tinha até uma etiqueta do tamanho GGX pendurada nas costas.

Não teria paz na vida enquanto não desfrutasse tamanho prazer, saboreando cada gomo e se achando o homem mais sortudo do mundo.

—Não vejo a hora de degustar essa feijoada apetitosa. Vou devorar com muita couve picada, rodelas de laranja e sapecada de pimenta malagueta.

Idalina levava a sério o seu Kit Maromba e tirava o macacão emborrachado apenas no final do dia e se escondia a sete chaves embaixo das cobertas para que Juliano não percebesse a diferença.

Aliás, a tamanha diferença!

—Onde está, minha gostosura?

—Escondidinha do frio, “Mozão”.

—Frio? Mas ta um calor do cão!

—Sou uma mulher sensível e frágil. Sinto muito frio nas partes íntimas— balbuciava com charme—E por falar nisso, hoje não estou me sentindo bem de saúde.Vamos remarcar o nosso encontro.

E lá ia embora o pobre rapaz, acreditando que era muito feio para aquela linda e apetitosa mulher.

— Poxa, por que me rejeita tanto assim? Acho que não estou à altura de tamanha formosura...

— Outro dia conversaremos melhor.Estou com enxaqueca. Hoje sem chance, docinho. Boa noite, amor. Apague a luz quando sair. 

—Eita mulher difícil! Essa é para casar.

Depois,quando estava só,olhava no espelho e sentia pena de si mesmo por não conseguir ser feliz do jeitinho que Deus lhe fez. Se eles descobrissem seu segredo mirabolante, seria difamada e apedrejada em praça pública.Mas enquanto este desfecho infeliz não chegava, o negócio era impressionar aqueles abobados que caiam aos seus pés apenas para conferir o material de perto.

— Mulher enrolada. Mostra o cardápio e não finaliza o pedido. Não entrega a encomenda.

Assim,Idalina se fazia de difícil, atiçando a gula de Juliano que já estava verde de paixão.


—Será que aquela gostosura não lhe daria um mole? - pensava ele.

—Será que aquele palhaço morreria de tanto amor? - pensava ela.

O povo fez uma aposta alta, valendo dinheiro vivo que Idalina lhe daria um olé.

—Aposto mil reais que você vai ficar na “secura”-dizia Jorge já com as notas nas mãos.

—Eu aposto dois mil que é só fogo de palha! - comentava Adílio.

Como Juliano não queria ficar para trás, apostou uma fortuna e dobrou o prêmio, dizendo que Idalina comeria miudinho na sua mão.

 

—Essa já ta no papo, seus vermes idiotas!

Reforçou a sua lábia de bico doce, deu um tabefe no topete e investiu tudo o que tinha na conquista de Idalina, que se fazia de durona, só de medo que caísse em tentação, colocando em risco o seu poderoso “kit milagre”. Remarcaram o próximo encontro no bar do Zé e Idalina já chegou chegando arreganhando corações com seu corpitcho bombástico.

 

Juliano desconfiou um pouco do tamanho da mulher, mas depois de cinco doses de caipirinha e dois rabo de galo, já estavam conversando sobre aparições de extraterrestres,ET de Varginha, Área 51, ET Bilú, Mosca na Sopa e a morte de Elvis...

—Meu amor, hoje eu tô que tô. Nem quero saber quem arrancou a perna do saci. Eu quero é vender a muleta!– chorava de rir o dinâmico Juliano.

— Querido, eu sou igual ao seu dente da frente.Você pode até perder e arrancar a raiz, mas nunca mais o seu sorriso será o mesmo!

Nessa firula toda,caiam na risada rebolando até o chão. Que casal maravilhoso!

— Vamos para o meu cafofo, linda?

— Hoje não, bijuzinho. Precisamos nos conhecer melhor. Quem sabe amanhã.

Esta folia toda apenas deu “pano pra manga”.O tempo foi passando e o pobre Juliano já perdia as esperanças.

— Estou morto de paixão por essa mulher espetacular. Além de ter um corpo lindo, é engraçada, atenciosa e extremamente interessante. Nunca imaginei conhecer alguém que me completasse por inteiro.

De repente percebeu que se apaixonou por Idalina e não somente por ser um modelito sensual ou marombada, mas por sua personalidade única.

—Quem diria que Idalina era essa mulher fenomenal.Ela é top. Maravilhosa! Sensacional! Belíssima!

Resolveu marcar um novo encontro romântico em um barzinho mais aconchegante e discreto.

Depois de muita insistência a maravilhosa apareceu esbugalhando corações.Juliano queria uma coisa mais séria: um compromisso de amor.Começou seu melodrama e contou toda a verdade sobre a aposta suculenta que rolava no pedaço e que para ele não tinha mais sentido algum, pois estava encantado!

 

—Não creio nisso, meu alazão! Uma aposta? Que ironia do destino, pois também tenho algo “cabeludo” para lhe contar.Assim Idalina sentiu firmeza nas intenções do rapaz e, após algumas doses de whisky,resolveu arrastar o infeliz para dentro do seu mocó do amor.Apagou as luzes discretamente e com muito charme abriu o zíper do macacão recheado de espumas, borracha, silicone e muita farsa.

       —Surpresa, gatinho manhoso.Eu não sou exatamente o que aparento ser. 

       —Meu amor, você superou as expectativas!

      Num ímpeto enlouquecido,Idalina arrancou o kit Maromba e sobraram apenas os ossos e moelas.Ele não se fez de lerdo, estufou o peito e caiu matando nos miúdos de Idalina, que estava mais saudável do que nunca.

—Nossa mulher, quanta fartura! É carne demais pro meu açougue... Aqui não tem “miserê”. Sobra pra todo o lado...

No outro dia,logo cedo anunciou para o mundo inteiro a sua mais nova conquista:

—Eu e Idalina estamos apaixonados! Além de ganhar a aposta, iremos morar juntos. O amor venceu! – gritava aos quatro ventos.

Idalina e Juliano se casaram no mesmo mês e dividiram a bufunfa da aposta que ele ganhou,com direito a um diploma de Honra ao Mérito.

—Parabéns, homi. Esse merece o prêmio. Roeu o osso e devorou toda a carne com apetite voraz, deixando apenas os miúdos de fora— comentavam nas rodinhas de conversa.

E o Kit Maromba? Ah, o kit Maromba fez um verdadeiro milagre na vida de Idalina, que ensacou Juliano para sempre dentro do seu coração. Ele estava cego de amor e não percebeu que Idalina usava um super macacão emborrachado.

Eh, mulher boa! Tem gostosura sobrando pelos cantos da casa! Sobra tanto que enjoa.Quase morro de congestão. É tanta pele esparramada no assoalho do quarto que parece um tapete.

Juliano acreditou realmente que a bonitona tinha couro até de sobra e que no final da noite pendurava elegantemente no cabide do armário só pra não amassar as dobrinhas.

 


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